mesa_branca

Mesa Branca é uma investigação iniciada em 2016 dentro da residência Lote pela dançarina Aline Bonamin e o artista visual Pablo Romart. Mesa Branca é uma tentativa de criar práticas de estudo em dança enquanto sessões de incorporações. O ritual enquanto estado performativo do corpo, da matéria que é estudada, do coreógrafo que é evocado para abrir espaço para o movimento e para o encontro presencial, ou não, entre intérprete e coreógrafo.

Parte fundamental dessa pesquisa é a documentação, através de enunciados e dispositivos performativos escritos em uma ficha de papel, complexificando o entendimento de como um intérprete da dança constrói sua trajetória de estudo enquanto uma prática artística que produz conhecimento e alteridade. Ao final de cada sessão, as fichas são enterradas. O ritual do enterro, rapidamente vinculado a morte, pode ser também entendido como um gesto de vida, de criação e de memória - a sobrevivência de uma imagem no tempo. O estudo já não tem dono, vira adubo, se decompõe, pode ser recuperado por outra pessoa ou ficar lá, dando tempo para as ideias decantarem. É preciso de tempo. Tempo para incorporar a questão. Tempo para se relacionar com o coreógrafo evocado. Tempo para experimentar. Cada sessão de estudo é um novo começo.

A Mesa Branca existe porque existe diálogo entre os vivos e os mortos. A mesma matéria - corpo - em diferentes estados de vibração.

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O projeto Mesa Branca foi iniciado durante a quinta edição da residência artística Lote em 2017, foi selecionado pela Convocatória Internacional Artes Vivas do NAVE (Santiago/Chile) 2018 e continua buscando situações/contextos para seu desenvolvimento.

fotos: Mila Ercoli
NAVE (Chile)

fichas /

Bem vindos,

as cinzas do museu nacional/queimaram línguas que não existem mais no mundo/tudo vira pó/estão queimando a nossa memória/estão queimando a nossa história/esquecimento/as vozes que calam/esse grito contido/um vestígio, uma marca, um rastro, uma ferida/esquecimento/o gesto precisa repetir muitas vezes para permanecer na história/me lembro que antes podia, depois não podia, agora não sei mais/quando começamos a esquecer as coisas? cinzas.

/som da praça de Yungay

pegar
juntar
deslizar
empurrar
apontar
fechar
agarrar

/ enterro

ficha#1
antes de ser enterrada

Lote/
bairro Bom Retiro/
São Paulo/2017

fichas#4
antes de serem enterradas

NAVE/
bairro Yungay/ Santiago/

out/2018

escrito por Pablo e Aline

ficha#1 desenterrada

Lote/
bairro Bom Retiro/
São Paulo/2017

despedida

ficha#2
enviada

Isa/
Reykjavík/
Islândia/

ficha#2
enterro e foto por Isabella Gonçalves

Isa/
Viðey, na Baía Kollafjørður/
Islândia/2018

ficha#3
enviada

NAVE/
Santiago/
Chile/

/estudo/

livro A Mesa de Francis Ponge

fichas#4
enterro por Aline e Pablo

bairro Yungay/
Santiago/
Chile/2018

cinzas//

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obras evocadas:
Imagine Peace Tower - Yoko Ono
Áfagar - Richard Serra

como seguir?

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fichas#5
antes de serem enterradas

Casa Liquída/
São Paulo

fev/2020

escrito por
Aline Bonamin Patrícia Árabe
Carolina Minozzi
Carolina Goulart
Talma Salem
Luciana Chieregati Ibon Salvador Tatiana Bittar

ficha enviada
Carolina Mendonça/
Bruxelas/
Bélgica/

fev/2020

escrito por
Aline Bonamin Patrícia Árabe
Carolina Minozzi
Carolina Goulart
Talma Salem
Luciana Chieregati Ibon Salvador Tatiana Bittar

tornar algo presente pelo exercício da memória e ou da imaginação; lembrar.

e v o c a r

evocar um coreógrafo vivo ou morto
/
evocar uma pessoa que você gostaria que estivesse presente
/
evocar a presença que já está presente
/
evocar para ficar junto, para estudar, para trocar, para lembrar, para perguntar, para se perguntar, para friccionar a presença e a ausência de uma pessoa, de uma ideia, de uma imagem...

"while I was making the dance my father died somewhere between these two movements". Trisha Brown

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trabalhadores chilenos escavaram as ruas do bairro de yungay. escavaram para mexer no esgoto. no tempo em que estivemos lá abriram enormes valas pelas ruas e calçadas. enterramos as fichas nessa terra, que foram soterradas por mais terra e concreto. debaixo dos nossos pés tem terra. que isso nunca seja esquecido. obrigada, chile.

/cinzas:
dias antes da quarentena/